O processo da acomodação

dez 11, 2016 | Artigos

o-processo-da-acomodacao

A acomodação é a capacidade que tem o cristalino de adaptar a sua forma mudando o seu poder dióptrico através do aumento e da diminuição de seu tamanho, mediante a contração dos músculos ciliares. Esta ação provoca a vergência dos raios luminosos que faz com que as imagens sejam focadas nitidamente na retina a diferentes distâncias. Trata-se de uma ação monocular e também binocular. O termo acomodação tem sua origem no latim accomodo e significa adaptar.

Antes do século XVII não se sabia que o olho modificava sua potência focal para observar objetos situados a diferentes distâncias. Em 1619 Christopher Scheiner utilizou um cartão com dois furos estenopeicos para demonstrar a existência da acomodação. Em 1677 uma referência sobre o poder de acomodação do cristalino foi proposta por Descartes. Em 1801, Thomas Young demonstrou este processo através das variações produzidas nas imagens de Purking, que são imagens catóptricas ou reflexas formadas pela córnea e também pelo cristalino.

A teoria mais aceita atualmente para explicar o processo de acomodação foi proposta por Herman Von Helmholtz em 1855, com base nas mudanças produzidas nas imagens de Purking. O estudo de Helmholtz demonstrou que a contração do músculo ciliar faz diminuir a tensão das fibras zonulares, alterando assim a forma do cristalino. Mas, em 1992, Schachar questionou essa teoria dizendo que, com base numa análise matemática, é possível considerar que a tensão das fibras zonulares na verdade aumenta ao invés de diminuir.
A acomodação se produz por causa do embaçamento das imagens na retina, o que provoca as mudanças na curvatura do cristalino, tendo em vista a obtenção de uma perfeita nitidez. Quando um estímulo visual provoca uma imagem embaçada na retina, este estímulo ativa a via aferente do sistema neurofisiológico transformando o estímulo visual num estímulo neurológico, fazendo com que este chegue às áreas 17, 18 e 19 do córtex visual primário através do nervo óptico, quiasma óptico, trato óptico e corpo geniculado lateral.
Na área 19 do córtex visual primário dá-se início à via eferente da resposta que leva então o impulso neurológico ao núcleo de Edinger-Westphal do complexo oculomotor, até o corpo ciliar, através do gânglio ciliar, por meio do nervo oculomotor.
O cristalino como um todo não tem a capacidade de mudar a sua forma de maneira autônoma, pois sua estrutura física não o permite. Todo o esforço muscular realizado é transmitido à sua cápsula que responde pela modificação de sua forma. A mudança de sua forma ocorre pela contração do músculo ciliar que transmite o movimento à cápsula cristaliniana por meio de cerca de 70 fibras zonulares de sustentação ligadas ao cristalino, chamadas de zônulas de Zinn, onde estão localizados os processos ciliares.
No ser humano, o processo de acomodação se desenvolve relativamente muito cedo. Ela aparece na quinta semana de gestação para um olho e na sétima semana de gestação para os dois olhos. Entre os dois ou três primeiros meses de vida ela é estável. E somente no quarto ou quinto mês depois no nascimento ela pode ser comparada com a acomodação de um adulto.
Existem duas teorias principais para explicar o mecanismo da acomodação. Atualmente, a teoria mais aceita é a proposta por Helmholtz, que afirma que ao fixar objetos distantes, ou seja, quando o cristalino está desacomodado, o músculo ciliar relaxa causando tensão nas zônulas de Zinn, sustentando um cristalino mais delgado e aplanado. E que ao fixar objetos próximos, quando ocorre a acomodação propriamente dita, o músculo ciliar se contrai fazendo então relaxar as zônulas de Zinn.
Isso permite que a cápsula do cristalino aumente a curvatura de suas faces anterior e posterior, tornando-o mais esférico, diminuindo desta forma o seu diâmetro equatorial e aumentando o seu diâmetro sagital, aumentando, consequentemente, a sua potência dióptrica. Entretanto, essa teoria não explica algumas questões como, por exemplo, o aplanamento periférico e a diminuição da aberração esférica que ocorrem neste processo.
A teoria de Schachar, por sua vez, defende que quando o cristalino está desacomodado as zônulas de Zinn estão na verdade relaxadas e quando as zônulas aumentam sua tensão aí sim o cristalino aumenta sua potência dióptrica, ficando mais esférico. Segundo Schachar, somente com o incremento da tensão das zônulas de Zinn é possível explicar todas as mudanças descritas durante o processo da acomodação. A teoria de Schachar utiliza um método matemático de elementos finitos denominado método de Rayleigh, e demonstra que a teoria de Helmholtz se tornou cientificamente insustentável.
Contudo, independentemente de qual teoria seja de fato sustentada, o mais importante a se considerar é a perfeita compreensão de que o cristalino modifica sua forma pela contração do músculo ciliar por meio do sistema nervoso central como resposta aos estímulos visuais, que podem ser vários, como por exemplo: embaçamento ou modificação da imagem retiniana; proximidade, tamanho e movimentação dos objetos; distância aparente dos objetos; redução do contraste, e; aberração cromática. E também que o processo de acomodação visará sempre buscar o perfeito ajuste da nitidez da imagem retiniana, o que pode ocorrer em frações de segundo, a depender de diversos fatores de ordem anatômica e fisiológica.
Fale com um Atendente!